Quando falamos em concentração já conhecemos as regras: ter uma agenda, apontar as nossas tarefas, manter o telemóvel longe… Mas lanço-lhe a seguinte pergunta: se já sabemos, na teoria, o que temos de fazer para manter o foco, por que continua isso a ser tão difícil? Sabemos que as distrações são muitas e que o ritmo é acelerado, às tantas nem nos lembramos onde deixámos as chaves e aquela tarefa importante também ficou esquecida, mas vamos começar por aqui: o segredo para ser mais focada é olhar para si como um todo - mente e corpo - e não apenas como alguém com uma lista de tarefas.
Por que perdemos o foco?
A falta de concentração pode ter muitas origens: desde noites mal dormidas a uma má higiene do sono, stress ou desequilíbrios nutricionais. A nossa capacidade em focarmo-nos numa tarefa ou objetivo não é movida apenas por motivação ou força de vontade (se assim fosse talvez todas nós fossemos mais vezes ao ginásio!), ela depende sobretudo do que acontece quimicamente no nosso cérebro.
Os nossos processos cerebrais envolvem palavras que talvez já conheça, como a dopamina ou a acetilcolina. Quando algum destes neurotransmissores está em falta ou em desequilíbrio, a capacidade de manter o foco diminui. É por isto que é tão importante não ser tão exigente consigo própria quando tem dificuldades em terminar tarefas ou em cumprir o que havia prometido: algo pode estar a precisar de atenção no seu corpo e talvez esteja na altura de olhar para a sua dificuldade de concentração num ponto de vista mais abrangente.
Será que é PHDA?
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento que pode manifestar-se de diversas formas e em qualquer faixa etária, embora seja frequentemente diagnosticada na infância. É normal questionar-se se tem esta perturbação caso existam dificuldades recorrentes em manter o foco e atenção por longos períodos, impulsividade nas ações ou a sensação constante de estar desorganizada e perdida.
Caso se reveja nestes sintomas, é importante refletir sobre o impacto dos mesmos na sua vida diária. A dificuldade em manter o foco, por exemplo, pode estar a afetar o seu desempenho profissional ou as suas relações pessoais. Além disso, a PHDA pode estar relacionada com outras condições, como ansiedade ou depressão, tornando ainda mais importante uma avaliação clínica cuidadosa. Muitas vezes, o diagnóstico desta perturbação é feito por meio de uma avaliação psicológica detalhada, que envolve entrevistas clínicas, testes específicos e a observação do comportamento ao longo do tempo.
Qual o primeiro passo para me conseguir concentrar?
Os nossos avós tinham um conhecimento profundo sobre o impacto da alimentação na saúde mental e física. Antes da medicina moderna valorizava-se o poder dos alimentos, das plantas, dos chás e infusões… Como psicóloga acredito que essa sabedoria continua a ser relevante e pode ser integrada não apenas enquanto elemento do processo terapêutico, bem como na nossa rotina atual. Somos os nossos pensamentos e emoções, sim, mas somos também aquilo que comemos, a forma como nos nutrimos e cuidamos de nós próprias. A saúde mental é multifatorial e, por isso, é importante que compreenda que somos como um todo: o corpo afeta a mente e vice-versa.
Enquanto psicóloga posso dar-lhe várias opções de “primeiro passo” para que seja mais fácil concentrar-se. Se já descartou possíveis problemas de saúde junto do seu médico ou psicólogo, talvez precise apenas de aprender a cuidar verdadeiramente de si. Encontre uma atividade física que lhe dê prazer e convide as suas amigas, ou pessoas significativas para irem consigo - façam disso um hábito, a sua rotina pessoal. Tente perceber se o seu corpo está nutrido, pois isso afeta diretamente a memória e o funcionamento cerebral. Vitaminas como a B5 e a B12 são fundamentais para a saúde dos neurónios e contribuem para a redução do cansaço e o funcionamento normal do sistema nervoso. Preparar smoothies coloridos ao pequeno-almoço parece uma ideia apelativa a vários níveis, mas saiba que por vezes um multivitamínico pode facilitar-lhe a vida e ajudá-la a evitar lapsos de memória e dificuldades em concentrar-se. Não se esqueça que os alimentos que consumimos nos nossos dias não têm a mesma composição e riqueza que os consumidos pelos nossos avós.
Ter um sono de qualidade também pode ser um excelente primeiro passo: tem dormido mesmo bem? Uma boa noite de sono é fundamental para o seu cérebro consolidar informações do dia e manter um funcionamento saudável. Métodos como o Pomodoro podem também ser úteis quando precisa de estar focada - divida o trabalho em períodos de 25 minutos e faça pausas entre eles. E claro, não ponha de parte a sabedoria dos nossos avós na procura por uma mente mais calma e focada. Ervas como a bacopa monnieri e a ginkgo biloba melhoram a memória, reduzem a ansiedade e favorecem a chegada de oxigénio e nutrientes essenciais ao cérebro.
Em suma, o caminho para uma maior concentração e foco é um processo que envolve mais do que simples listas de tarefas ou disciplina. A chave está em compreender que mente e corpo são partes interligadas e que o nosso desempenho cognitivo é profundamente influenciado pela nossa saúde física, emocional e mental. Se sente dificuldades frequentes em manter a atenção não se esqueça de que existem caminhos.
Texto escrito por:
Dr.ª Ana Sofia Fernandes, psicóloga clínica especializada em áreas como PHDA, saúde mental perinatal, intervenções na primeira infância, mediação familiar, dislexia, proteção de crianças e jovens, intervenção familiar, avaliação de competências parentais e psicologia forense. A sua abordagem integrada e empática é direcionada para promover o bem-estar mental e emocional das famílias que acompanha.
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