Ensina-nos a olhar de uma forma positiva para tudo o que temos e a encontrar beleza naquilo que consideramos ser imperfeito: o wabi-sabi é uma filosofia japonesa milenar que nos permite enfrentar as nossas lutas modernas sem a sensação ilusória de que alcançaremos a perfeição.
Não raras vezes, concentramo-nos naquilo que poderia ser ou ter sido; o wabi-sabi concentra-se em apreciar, simplesmente, o que é. Sofremos com os desafios que encontramos no nosso caminho e o wabi-sabi olha para eles com aceitação e apreciação, encarando-os como algo que faz parte da natureza da vida.
Pelo facto de estarmos constantemente à procura de atingir algo que nos torne mais felizes, acabamos por não aproveitar aquilo que, efetivamente, já é nosso e já existe. É aqui que entra o conceito japonês wabi-sabi, cujas ideologias tradicionais se baseiam na importância de apreciar a beleza da imperfeição.
Os conceitos gerais associados a esta forma de estar na vida são a impermanência e o seu princípio fulcral assenta na crença de que devemos nutrir tudo o que é autêntico ao reconhecermos três realidades simples: “Nada dura, nada está terminado e nada é perfeito”.
Em japonês, os significados e as conotações de wabi e sabi evoluíram ao longo do tempo: wabi estava associado à solidão e à beleza da simplicidade e sabi estava associado à progressão natural das coisas (o passar das estações, por exemplo). À medida que a sociedade japonesa foi, também ela, evoluindo, estes conceitos passaram a ser vistos como libertadores, sendo as imperfeições algo natural, na medida em que resultam da progressão da vida. Juntos, estes termos harmonizaram-se para criar uma conceção mais abrangente da apreciação do avanço do tempo, que representa a beleza da impermanência.
Esta ideologia representa o equilíbrio entre a apreciação do que temos e o tempo, que nos permite entender que tudo é fugaz. É um escape a tudo aquilo que nos tenta convencer de que devemos querer mais; faz parte do mindfulness, porque se relaciona com a importância da atenção plena – para viver o agora e aproveitar esse momento único.
Que lições retiramos do wabi-sabi?
Sendo a noção de wabi-sabi algo muito amplo, são muitos os ensinamentos que nos transmite. Um dos principais encontra-se na mensagem de que tudo na nossa vida é impermanente e é essa transmutação constante que nos permite apreciar a sua beleza.
E sobre o tópico beleza propriamente dita, há algo que o wabi-sabi nos ensina também. Em todos nós existe uma noção programada daquilo que é o belo, desde o momento em que nascemos. Nesse sentido, não desconsiderando o cuidado do nosso corpo (que é a nossa casa), sobreleva-se a importância de aceitarmos o facto de existirem partes do nosso ser que não podemos mudar.
Como aplicar este modo de vida no dia a dia?
Podemos tentar aplicar estes princípios na nossa casa, seguindo uma linha de decoração minimalista e contrariando a tendência para o consumo. Se não precisamos de algo, para quê comprá-lo? Ser wabi-sabi no lar é adquirir peças que sabemos que vão «crescer» connosco, à medida que nos vamos transformando também.
Por fim, e além de nos fazermos valer desta forma de estar japonesa no nosso mundo interior e exterior, há que evocá-la também no nosso trabalho, compreendendo que fazer múltiplas tarefas em simultâneo não é produtivo – até pode sentir que está a fazer mais, mas na verdade está a distrair-se. Quando existir um projeto para concluir, o importante é não ter medo de adotar a ideia de isolamento de tudo o que a irá distrair. Dessa forma, tudo fluirá mais rapidamente. Depois, o que tem a fazer é parar, observar, apreciar e continuar a sua missão laboral.
Para aplicar esta filosofia é necessário que aconteça uma mudança de perspetiva. Deixarmos de procurar a perfeição e começarmos a valorizar a forma atual do que nos rodeia. Não existe uma fórmula fixa para aplicarmos estes ensinamentos no nosso dia a dia. Para algumas pessoas, wabi-sabi pode significar praticar a gratidão, para outras pode representar o valor de saber ouvir o outro, por exemplo. Encontre aquela que funciona melhor consigo e relembre sempre o seu ikigai – aquilo que a move todos os dias, ao acordar.