Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental

Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental

Comecemos por reconhecer o impacto positivo que as redes sociais têm, como a possibilidade de estar em contacto com familiares, amigos; a possibilidade de auto expressão; a diminuição da sensação de isolamento; um meio de apoio para adolescentes que encontram um espaço onde falar sobre questões de saúde mental e também são descritas como um facilitador de conexão entre pessoas que enfrentam desafios ao nível da saúde mental.

Entre os principais efeitos negativos encontramos aumento de depressão e distúrbios de ansiedade; perturbação do sono; diminuição da sensação de bem-estar generalizado; FOMO (fear of missing out); cyberbullying; percepção da imagem corporal e auto-estima; pressão para a produtividade constante. 

Depressão e Ansiedade.

Vários estudos, feitos com adolescentes e jovens adultos, demonstraram que o uso intenso de redes sociais faz com que surjam preocupações em algumas temáticas, incluindo a comparação social, o medo de perder informações relevantes, a exposição excessiva a notícias e fake news que conduz a uma sensação de stress. Também se observa que adolescentes que passam mais tempo nas redes sociais e a interagir com dispositivos eletrónicos, têm mais probabilidade de desenvolver questões relacionadas com a saúde mental do que adolescentes que passam mais tempo em atividades longe de ecrãs.

A tendência para a desvalorização das relações reais tem vindo a gerar um distanciamento entre pessoas e sabendo que a necessidade de conexão e pertença são necessidades do ser humano, essa desconexão pode levar a sensações de solidão, depressão, ansiedade e stress.

Se é verdade que as redes sociais nos permitem conectar com pessoas, também é verdade que a conexão virtual não substitui as interações sociais significativas e levar a pessoa a uma sensação de isolamento e o consequente ciclo infinito de atualizações e notificações em detrimento de outros aspectos importantes da sua vida.

Salientamos ainda, que estas conexões virtuais, são muitas vezes o confronto com aquilo que o outro está a fazer, ou aquilo que o outro tem, ativando a sensação de “comparar e desesperar”, os sentimentos de inadequação, contribuindo para sintomas de ansiedade.

FOMO

FOMO é uma sigla que designa Fear of Missing Out, isto é, o medo de não estar presente em algum evento, atividade interessante e por isso estar constantemente conectado com o que os outros estão a fazer, para não perder.

Cyberbullying

O cyberbullying pode apresentar-se sob a forma de comentários negativos, de forma pública ou privada. A sensação de impunidade e a possibilidade de o fazer de forma anónima, contribui para este tipo de bullying que deixa marcas em quem o recebe.

Auto-estima

A dinâmica das redes sociais frequentemente leva a comparações entre as vidas dos usuários, incluindo bens materiais, estilos de vida e estética, mesmo que essa aparência seja muitas vezes editada para parecer melhor Isso pode resultar em sentimentos de inferioridade e insegurança, especialmente quando a quantidade de curtidas e interações nas postagens não atende às expectativas.

O modo de organização das redes sociais tende a enfatizar a importância de possuir bens materiais e certos estilos de vida, fomentando assim comportamentos exibicionistas nos quais os indivíduos buscam incessantemente demonstrar suas conquistas como troféus, em um ciclo contínuo de competição para estabelecer quem possui mais. Isso cria uma dinâmica na qual o foco está no materialismo e na busca de validação através da ostentação.

Percepção corporal

A exposição às redes sociais está associada à sensação de descontentamento das mulheres com seus próprios corpos, a mais preocupações com a aparência e a maior incidência de distúrbios alimentares. Observou-se que mulheres, jovens adultas, quando fizeram uma pausa nas redes sociais durante cerca de uma semana, sentiram um aumento significativo da sua autoestima e imagem corporal. 

Perturbação do sono

São vários os estudos que indicam que o aumento da exposição a redes sociais afeta negativamente a qualidade do sono, sobretudo quando a exposição a smartphones, laptops, tablets, ocorre no período da noite. Outro dado interessante, mostra-nos que 1 em 5 adolescentes acorda durante a noite e confirma se tem mensagens ou  notificações, o que leva a uma maior sensação de sonolência e cansaço, quando comparado com adolescentes que não o fazem.

Outra questão que se levanta sobre o impacto negativo sobre as redes sociais, é a exigência de disponibilidade e gestão a que estas obrigam levando a uma quantidade excessiva de horas semanais dedicadas às atualizações das suas redes sociais, à observação de como é a vida de ex-parceiros/as e a alimentar conflitos virtuais.

O impacto negativo das redes sociais na saúde metal, parece ser potenciado pela falta de educação digital, pressão social para se manter uma presença ativa nas redes sociais. Um estudo feito com universitários, sugere que os efeitos negativos são mais impactantes junto de jovens que se isolam socialmente.

 

Será, por isso, importante usar as redes sociais de forma informada, integrando o seu lado positivo e negativo. Deixamos algumas estratégias, que nos parecem relevantes.

Refletir

  • Como as redes sociais impactam a tua saúde mental?
  • Como te sentes quando ficas um tempo sem acesso às redes sociais?
  • A tua identidade digital é semelhante à tua identidade real?


Manter em mente

  • Cada pessoa tem o seu percurso e ritmo próprios;
  • O que é visível no mundo digital é apenas uma parcela da realidade;
  • Filtrar conteúdos, separar conteúdos que acrescentam daqueles que prejudicam;
  • A maior parte da informação é generalista, ou seja, não tem em conta as características individuais, história de vida, etc.;
  • Confirmar fontes de informação.


Reduzir

  • Reduzir os excesso de estímulos;
  • Desligar as notificações;
  • Limitar o tempo de uso de apps;
  • Limitar a quantidade de redes sociais em que se está presente.


Consciência

  • Fazer uso das redes sociais em consciência, procurando estar envolvida/o no conteúdo em vez de fazer scroll infinito;
  • Tirar um momento para estares nas redes sociais, em vez de usares as redes sociais a qualquer momento;
  • Evitar estar nas redes sociais quando estás a comer, a conviver, enquanto fazes exercício físico;
  • Estar presente no momento.


Envolvimento

  • Investir em tempo de qualidade com família e amigos;
  • Participar em atividades culturais;
  • Aprender algo novo (de forma autodidata ou estruturada);
  • Fazer exercício físico;
  • Estar em contacto com a natureza;
  • Envolveres-te em atividades criativas.


Qualidade do sono

  • Desligar das redes sociais, cerca de 40 minutos antes de ir dormir;
  • Ter uma boa rotina de sono.


Psicoterapia

  • Se sentes que as redes sociais estão a ter impacto negativo na tua saúde mental, procura um profissional de saúde mental.

 

Raquel Ferreira Santos, Psicóloga Clínica na RUMO.
Trabalha nas áreas da regulação emocional, perturbações de humor e violência psicológica, com a população jovem e adulta. Cédula profissional 15087.

  

Fontes:
Costa, L. G. & Petrich, L.R. (2023). Impacto do uso excessivo das redes sociais virtuais na saúde mental. Ciencias da saúde, Psicologia, Volume 27 - Edição 128/NOV/2023.
Fruehwirth, J.C, Weng A.X., Perreira K.M.(2024) The effect of social media use on mental health of college students during the pandemic. Health Econ. 2024 Oct;33(10):2229-2252. doi: 10.1002/hec.4871. Epub 2024 Jun 14. PMID: 38873817.
Hamm MP, Newton AS, Chisholm A, Shulhan J, Milne A, Sundar P, Ennis H, Scott SD, Hartling L. Prevalence and Effect of Cyberbullying on Children and Young People: A Scoping Review of Social Media Studies. JAMA Pediatr. 2015 Aug;169(8):770-7. doi: 10.1001/jamapediatrics.2015.0944. PMID: 26098362.
Lopes LS, Valentini JP, Monteiro TH, Costacurta MCF, Soares LON, Telfar-Barnard L, Nunes PV. (2022)Problematic Social Media Use and Its Relationship with Depression or Anxiety: A Systematic Review. Cyberpsychol Behav Soc Netw. 2022 Nov;25(11):691-702. doi: 10.1089/cyber.2021.0300. Epub 2022 Oct 10. PMID: 36219756.
Twenge, J. M., Joiner, T. E., Rogers, M. L., & Martin, G. N. (2018). Increases in Depressive Symptoms, Suicide-Related Outcomes, and Suicide Rates Among U.S. Adolescents After 2010 and Links to Increased New Media Screen Time. Clinical Psychological Science, 6(1), 3-17. https://doi.org/10.1177/2167702617723376
Young Health Movement (2017). Status of Mind: social media and young people´s mental health. Royal Society for Public Health via https://www.rsph.org.uk/our-work/campaigns/status-of-mind.html

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