São cada vez mais as pessoas que procuram o yoga, seja porque precisam de ultrapassar algumas questões físicas, seja porque ouviram dizer que ajuda a acalmar e a lidar com a ansiedade, ou simplesmente porque procuram um equilíbrio que ainda não conseguiram atingir de outra forma. Mas, afinal, o que é o yoga? Uma prática física? Uma filosofia? Um estilo de vida?
Para percebermos o que é o yoga, precisamos de nos libertar da «fotografia perfeita» e das posturas acrobáticas que estamos habituadas a ver, enquanto representação do yoga. O yoga é uma prática real — para pessoas reais, seja qual for o seu tipo de corpo e/ou condição física —, que se apresenta como um caminho de autoconhecimento e de crescimento pessoal. Fazendo este caminho, conseguimos aproximar-nos da nossa verdadeira essência, de quem realmente somos, além de todos os papéis que desempenhamos na nossa vida e daquilo que esperam de nós. A prática de yoga aponta para a expressão plena do seu ser, da sua verdadeira natureza e, para isso, é preciso tocar bem mais do que o seu corpo.
O yoga olha para o nosso corpo como uma expressão física do que levamos dentro. O que nutrimos, o que alimentamos no nosso interior acaba por afetar a nossa condição física, a nossa saúde e o nosso bem-estar. Cuidando do nosso corpo, através da prática física das posturas de yoga, é possível fortalecer, purificar e equilibrar não só os nossos ossos, músculos e ligamentos, mas também todos os nossos sistemas orgânicos, o nosso corpo energético, a nossa mente e as nossas emoções, mesmo as mais escondidas e que muitas vezes preferimos não ver. A consciência profunda na respiração e a regulação intencional da mesma facilitam todo este processo, a nível físico e energético e, em íntima relação com as posturas, abre o espaço necessário para a meditação, uma prática que, por si só, constitui um caminho em direção à sua verdadeira natureza. Este processo de união entre corpo, mente e espírito, e a consciência profunda de quem é, a cada momento, é a essência de viver e crescer em yoga.
Esta prática não consiste na arte de colocar os pés atrás da cabeça e de conquistar posturas que, muitas vezes, não são benéficas para o seu corpo. Não é algo separado de nós e das nossas vidas diárias, não é algo que fazemos num momento e deixamos de fazer no outro. A prática de yoga conduz-nos a um estado mais elevado de consciência, que toca todos os campos da nossa vida e nos permite ir reconhecendo uma nova forma de viver, muito além do nosso tapete. Praticar yoga é um caminho para estarmos profundamente conectados connosco, com o nosso corpo, com o que acontece em nós, agora! É o caminho para nos encontrarmos em presença e celebrarmos o momento presente, com a tranquilidade de quem sabe que esse momento tem tudo o que precisamos para sermos felizes, reais e podermos crescer e melhorar.
Viver em yoga não muda a forma como os acontecimentos surgem na nossa vida, mas transforma profundamente a forma como olhamos para as nossas experiências, permitindo-nos reconhecer que já somos tudo aquilo que estávamos à procura.
O Yoga e o Modo Zen
Quando diz a alguém que pratica yoga, é frequente perceber que, de alguma forma, pode não corresponder a uma imagem pré-concebida, que foi sendo criada, daquilo que é suposto parecer ou ser enquanto praticante. A ideia geral é que quem faz yoga são pessoas «zen», super calmas e flexíveis, com voz suave, que se vestem de uma certa forma, que são vegetarianas e que dizem e fazem coisas esotéricas. Vê-se colocada dentro deste modelo, que mais parece uma receita, em que juntamos um conjunto de ingredientes para criar um ser especial e iluminado, que leva a vida a caminhar de nenúfar em nenúfar.
Para praticar yoga, só precisa de uma coisa: vontade! Tudo o resto é um cenário (exterior) com o qual não tem de se identificar. O grande acontecimento, o verdadeiro espetáculo, acontece dentro de si.
O yoga aponta para a liberdade total e absoluta de ser quem já é, na realidade, e para expressar e manifestar quem é, em toda a sua plenitude. Livre de amarras, de limites ou de «formatos» onde se deve encaixar. Tudo isso, não passam de prisões. Se alguém lhe diz como se deve vestir, comer, pensar ou agir, desconfie! Isso, claramente, não é yoga.
É claro que a prática de yoga lhe traz mais flexibilidade (física e mental!), que acalma a sua mente e lhe faz repensar todo o seu estilo de vida, mas também é verdade que, muitas vezes, o yoga é disruptivo, fazendo-a agitar as águas da sua vida e romper com padrões que não lhe servem, porque isso é tudo o que precisamos em certos momentos das nossas vidas. Não é suposto que entre num caminho de libertação para depois se ver aprisionada ou pressionada a estar sempre em modo «zen», ou a agir de forma que não reflete o que sente. O seu mundo tem a sua medida, não se falsifique para caber no modelo de mundo de alguém. Liberte-se e seja real. Seja tal e qual quem é!
O que é necessário para começar a praticar yoga?
Quando as pessoas começam a pensar em praticar yoga, é frequente surgirem inseguranças e questões, muitas delas sabotadoras, que podem mesmo impedir ou limitar a sua experiência: “Não tenho flexibilidade, tenho uma péssima condição física"; "Estou demasiado pesada"; "Já não tenho idade para essas coisas"; "Sou demasiado stressada"; "Nas aulas de yoga são todos muito mais calmos do que eu"; "A minha saúde já não me permite"; "Não gosto de coisas esotéricas e religiosas"....
Aquilo que precisa de saber para praticar yoga é que nada disto é verdade! O yoga é para todos. Basta ter um corpo e ter vontade de começar. Se fizer «check» nestas duas condições, está na hora de «subir para o tapete». Não importa a sua idade, condição física, peso, altura, flexibilidade (a maior flexibilidade que o yoga lhe irá trazer é a flexibilidade mental e a capacidade de se adaptar a todas as situações, independentemente do que surgir na sua vida!). Não importa se é uma pessoa calma, agitada ou explosiva (se assim for, mais razões tem para começar a equilibrar esse lado furacão!). E mais. não importam as suas crenças ou religião, porque o yoga não é uma religião! Nada disso a deve impedir de praticar yoga.
Tome nota daquilo de que precisa para se iniciar nesta prática:
- Vontade. Um famoso professor de yoga, SRI K Pattabhi Jois, dizia que “o yoga é para todos, menos para os preguiçosos”, ou seja, se tiver vontade, já reúne o mais importante fator para começar;
- Esquecer todas as opiniões que ouviu e experimentar. Liberte-se de feedbacks e das experiências das outras pessoas. Se nem toda a roupa serve a toda a gente, porque iria uma prática ser vivida de forma igual por diferentes pessoas? Não se limite;
- Compromisso. Tal como acontece noutros campos das nossas vidas, para conseguirmos atingir um determinado objetivo, seja ele qual for, precisamos de nos comprometer. Comprometa-se com a sua prática. Estabeleça um horário, escolha um espaço, e pratique;
- Respeito pelo seu corpo. A evolução na prática requer tempo e dedicação. Ouvir e conhecer o seu corpo é fundamental para uma prática consciente e saudável;
- Divertir-se. O yoga é um processo de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal, mas isso não quer dizer que não possa manter o bom humor enquanto o faz. O processo é intenso e profundo, mas se tiver um sorriso no rosto perante os desafios que vão surgir, tudo será mais bonito e leve!
Boas práticas!
Márcia Viana é instrutora de yoga, facilitadora de meditação e Positive Discipline Educator | marciaviana.yoga@gmail.com