Celebração do Chá, Uma Tradição Oriental Saudável Para a Mente, o Corpo e a Alma

Celebração do Chá, Uma Tradição Oriental Saudável Para a Mente, o Corpo e a Alma

E se lhe dissermos que, na China, usar as duas mãos para beber um chá é um sinal de respeito, de gratidão e de entrega a esse momento? Deixe-nos adivinhar: nunca tinha parado para pensar nisto. Acertámos?

Há bebidas que unem as pessoas, e o chá é uma delas. Na China e no Japão, o costume de o beber faz parte de uma visão um tanto ou quanto espiritual e cultural, mas ao mesmo tempo sofisticada e prazerosa. Faz parte da tradição chinesa fazer a cerimónia do chá todos os dias, porque esse gesto é visto como algo meditativo.

Simbolizando a união entre a cultura chinesa e japonesa, o ritual do chá está assente em pilares ideológicos budistas, pretendendo celebrar a importância de valores como o respeito e a pureza de espírito, aliados a uma busca pela paz e harmonia. Quer isto dizer que, em civilizações como estas, beber um chá é muito mais do que ferver água com sabor, para bebermos enquanto nos dedicamos a qualquer outra tarefa trivial.

O amor à Natureza, a humildade e a tranquilidade começaram a integrar a filosofia associada ao chá no início do seu consumo nestes países. E a relevância que se atribui a esta cerimónia é de tal forma elevada, que a população chinesa acabou por criar alguns pilares base para fazer parte dela:

  • A escolha do chá (feita através do aroma e do sabor);
  • A seleção da água;
  • A escolha das louças certas;
  • O ambiente, que deverá ser calmo, limpo e confortável;
  • E a atitude (de confiança e de felicidade).

De onde surgiu este conceito?

Em tempos antigos, o chá servia de pretexto para as reuniões sociais. Organizavam-se degustações onde se tentava descobrir qual a origem dos vários tipos de chá que se serviam à mesa. À medida que o tempo foi passando, a apreciação da bebida foi-se aprimorando e o ritual foi evoluindo, passando a olhar-se para os gestos que o acompanham como algo tão importante como o próprio chá.

Quais as regras?

Existe uma história antiga que conta que, há milhares de anos, aconteceu uma cerimónia de chá numa casa modesta, cuja porta era tão baixa que os convidados eram obrigados a descalçar-se e a baixar-se para entrar. Essa atitude simbolizava humildade e predisposição para aceitar a vida.

Traduzindo à letra, cerimónia do chá significa «o caminho do chá». É nela que se homenageia a filosofia Ichigo-Ichie, cujo princípio basilar assenta na crença de que «cada encontro é único e valioso». Esses encontros únicos são também estas celebrações, pois cada uma só pode ser vivida daquela forma apenas uma vez.

Esta celebração é uma arte, exigindo muita concentração nos movimentos e na postura, tal como numa meditação. Além do silêncio (não se pode falar durante todo o ritual), existem quatro princípios básicos a ter em mente:

  • A harmonia (Wa). Devemos ter uma atitude humilde e despretensiosa, criando um ambiente calmo à nossa volta e interagindo com a Natureza. Acredita-se que através deste estado de espírito se consegue compreender que tudo na vida é temporário e mutável;
  • O respeito (Kei), que representa a compreensão e aceitação dos outros. Todas as coisas e pessoas devem ser olhadas da mesma forma, com igualdade e consideração. Esta postura leva à gratidão, uma das energias mais fortes do Universo;
  • A pureza (Sei), mantendo a mente e o coração abertos. A purificação do ambiente e das pessoas acontece quando o próprio espaço está limpo e organizado;
  • A tranquilidade (Jaku), um estado que apenas alguns conseguem alcançar. O silêncio e a quietude são as regras de ouro para se conseguir ficar tranquilo, algo que é muito mais profundo do que se possa pensar.


Como simplificá-lo e aplicá-lo no nosso dia a dia?

O propósito é, tão-somente, criar um momento pacífico, de entrega à harmonia que esta bebida exalta, através de um conjunto de gestos e de fatores que influenciam essa sensação. Mas se na cultura asiática esta celebração dura quatro horas e é encarada com extremo rigor, poderíamos adaptá-la à nossa vida frenética e experimentar transformá-la num ritual mais simples, em que tomamos a liberdade de concentrar todas as energias nessa pausa mental que nos conduz ao equilíbrio.

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