Depois de um live de sucesso no Instagram da Frederica, no decorrer desta quarentena, Carolina Costa Granja, coach de relacionamentos amorosos, responde a algumas das questões mais colocadas pelas nossas leitoras.
Abaixo, encontre todos os conselhos da especialista em relações e tente adaptá-los à sua realidade. Relaxe! Vai ficar tudo bem. E lembre-se: no final, tem sempre a sua companhia (e temos a certeza de que é a melhor de todas!).
Como lidar com as saudades e com a frustração nesta quarentena?
É natural que a distância da pessoa que amamos traga dor, desconforto, saudades e frustração. E é também natural que perante este contexto cada uma das partes manifeste as suas emoções de forma diferente: há pessoas que choram, outras que se tornam mais conflituosas, outras ainda que se isolam.
Então, é fundamental que, desde logo, se mantenham ou criem hábitos de comunicação que apoiem cada membro do casal a expressar o que sente e a compreender o que o outro sente, de forma empática, honesta e vulnerável. Nesse sentido, podem, por exemplo, adotar a prática de todos os dias, ao final do dia, conversarem durante pelo menos 10 minutos e partilharem como foi o dia, quais foram os pensamentos, emoções e desafios. De modo a fortalecer a união entre o casal, podem ainda perguntar um ao outro de que forma poderão estar mais presentes e apoiar-se mais no dia seguinte, expressando gratidão por algo que o parceiro ou parceira disse ou fez naquele dia ou pelo facto de, apesar da distância, continuarem a fazer parte da vida um do outro.
Além da comunicação, que é sem dúvida um dos pilares essenciais para relações amorosas saudáveis e equilibradas, é também importante encontrar alternativas para a ausência do contacto físico que promovam a conexão entre o casal. Podem, por exemplo, preparar um jantar romântico e jantar frente a frente através de videochamada; ver o mesmo filme ao mesmo tempo e trocar impressões como se estivessem lado a lado; experimentar algo novo em conjunto (uma aula de yoga, um workshop online, uma receita ou qualquer outra opção que seja do agrado de ambos); surpreender o outro com um presente entregue em casa; se se sentirem à vontade, podem também enviar fotografias ou vídeos mais arrojados e masturbar-se em simultâneo. Sejam criativos e adaptem aquelas que eram as vossas rotinas a esta nova realidade.
O que fazer numa discussão?
As discussões são inevitáveis entre os casais. Afinal de contas, tratam-se de dois seres humanos distintos, com personalidades, histórias, valores, visões e crenças próprias. Nesse sentido, a expetativa não deverá ser evitar toda e qualquer discussão, mas adotar hábitos de diálogo mais saudáveis.
Em primeiro lugar, comunicar com o outro de uma forma clara, honesta, empática e vulnerável é essencial para discutir questões que causam divergências entre o casal de uma forma que os aproxime e não que os distancie.
Em segundo lugar, é importante estar atenta àquelas que são as grandes armadilhas de comunicação entre os casais:
- Crítica: atacar o caráter do outro. Exemplo: "És sempre tão egoísta". Ao invés de criticar, que vai criar no outro a necessidade de se defender e/ou contra-atacar, expresse o que sente e manifeste de forma clara as suas necessidades. Exemplo: "Sinto-me triste quando não recebo a tua atenção, podes escutar-me e dar-me um abraço?";
- Ressentimento: expressão de superioridade através de insultos, sarcasmo, cinismo ou hostilidade. É o fator que mais distancia o casal e que mais rapidamente poderá levar a uma rutura. Exemplo: "És um idiota, não fazes nada de jeito". Experimente, em alternativa, reconhecer o esforço do outro, demonstrar o seu respeito e admiração. Exemplo: "Obrigada por teres tentado, significa muito para mim";
- Defesa: autoproteção, indignação «justificada», vitimização, culpabilização do outro. Exemplo: "A culpa de termos chegado atrasados é tua, não é minha". É importante que aceite e reconheça que também é responsável pelo conflito. Exemplo: "Podia ter-te dito que estávamos em cima da hora";
- Isolamento: fugir à conversa sem resolver o conflito. Exemplo: "Esquece...". Quando a conversa se intensificar, podem afastar-se durante uns minutos ou o tempo que considerarem necessário para se acalmarem. Depois, quando se sentirem mais calmos retornar, então, ao diálogo.
Como podemos manter a conexão com o parceiro à distância?
Seja uma relação de anos, meses ou semanas, é possível continuar a nutrir e a fortalecer uma relação à distância, com as devidas adaptações. Estas são algumas das alternativas a que pode recorrer como forma de compensar a ausência de contacto físico:
- Conversarem sobre temas que nunca exploraram ou aqueles sobre os quais não conversam há algum tempo (as pessoas importantes para o outro; os maiores desafios e medos neste momento; as áreas da vida em que se sentem mais e menos satisfeitos; a viagem que gostariam de fazer; os objetivos a curto, médio e longo prazo; a posição sexual preferida, etc.);
- Estarem presentes, ainda que à distância, e mostrarem interesse um pelo outro (como se sentem, como foi o dia de cada um...);
- Criarem algo em conjunto, por um exemplo um álbum de fotografias vossas digital; uma playlist com as vossas músicas preferidas; uma timeline da vossa relação desde o dia em que se conheceram; um vision board com imagens que representem os vossos objetivos e sonhos enquanto casal;
- Manterem os momentos a dois, com as adaptações necessárias: jantares românticos por videochamada; noites de cinema em que vão trocando impressões sobre o filme; fazerem exercício físico ou uma receita em simultâneo; se se sentirem confortáveis trocarem fotografias, mensagens e de voz e vídeos íntimos e masturbarem-se ao mesmo tempo;
- Surpreenderem-se mutuamente, enviando, por exemplo, um presente para a casa do outro;
- Criarem rituais de conexão em que partilham os pensamentos, emoções e desafios de forma vulnerável e empática, em que estão presentes e inteiramente disponíveis um para o outro e em que expressam a vossa gratidão pelo facto de, ainda que à distância, fazerem parte da vida um do outro.
Se o parceiro ou parceira não mostrar abertura em relação a estas alternativas, a minha sugestão é que comunique de forma honesta, carinhosa e vulnerável as suas necessidades, manifestando com clareza o porquê de ser importante conectar-se com ele/a, e que encontre um ponto de equilíbrio que seja coerente e confortável para ambos. Estar numa relação é também caminhar na direcção um do outro e negociar os aspetos em que não estão de acordo.
Como ultrapassar o fim de um relacionamento na quarentena?
O fim de uma relação é sempre um momento doloroso e, estando em isolamento, esta dor pode intensificar-se, na medida em que temos menos distrações ao nosso dispor e é também menos provável encontrarmos um novo amor que ocupe o lugar que ficou vazio.
Ainda assim, e apesar de reconhecer que é, sem dúvida, angustiante viver este momento de rutura neste contexto, o facto de estar em isolamento permite um maior contacto com o que realmente se sente. Então, sinta o que quer que seja que esteja a sentir, sem reprimir, sem jogar para debaixo do tapete. Está tudo certo e o que quer que seja que esteja a sentir é válido.
Além de ser uma oportunidade de se conectar mais profundamente com as suas emoções, é também um momento para se reaproximar de si mesma. Cuide de si, permita-se a fazer o que lhe dá prazer. Invista em si, nos seus hobbies, nos seus interesses, e redescubra-se, porque provavelmente não é a mesma pessoa que era antes de entrar naquele relacionamento. Reflita sobre o que essa relação lhe trouxe e lhe ensinou sobre si e sobre o que quer para a sua vida. E não se isole; está tudo certo em querer ter momentos só seus, mas é importante que neste momento de luto se sinta apoiada pelas pessoas de quem gosta, ainda que seja através de mensagens e telefonemas. Se for demasiado doloroso para si, procure, também, o apoio de um profissional. Não está, nem tem de estar, sozinha, e tudo se torna mais leve quando dividimos um pouco do fardo que carregamos connosco.
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