Dentro de todas as incertezas da vida, e apesar da verdade poder ser subjetiva, uma coisa é certa: as mulheres são, muitas vezes, más umas para as outras. Resta saber porquê. Neste artigo, encontra algumas das teorias principais sobre a temática e a possível conclusão a que se chega – a verdade possível – sobre o assunto.
Entre o género masculino, as relações interpessoais são diferentes. Os homens têm tendência a ser mais violentos fisicamente do que as mulheres (testosterona alta + serotonina baixa = impulsividade descontrolada) mas, regra geral, não se ofendem tanto nem se difamam como elas. O que estará, então, por trás deste pequeno fenómeno? Fernanda Verzenhassi, psicóloga clínica, ao ser contactada para opinar sobre esta matéria não hesitou em dizer o seguinte:
"(…) Existem duas teorias principais a respeito do motivo pelo qual as mulheres são competitivas de maneiras indiretamente agressivas. A psicologia da evolução, que utiliza a seleção natural para explicar os nossos comportamentos modernos, afirma que as mulheres precisam de se proteger do perigo físico, de modo que a agressão indireta nos protege ao rebaixarmos a casta das outras mulheres. A psicologia feminista atribui esta agressão indireta à interiorização do patriarcalismo (…)".
É provável que ambas as teorias estejam certas. Porém, e para quem só agora se depara com estas ilações: o que pode querer dizer tudo isto? Vamos por partes. Comecemos por aquilo que pode, eventualmente, ser um dos gatilhos emocionais que ajudam a promover o conflito propriamente dito: o impacto da crítica na mulher.
Tara Mohr’s, autora do livro Playing Big: Practical Wisdom for Women Who Want to Speak Up, Create, and Lead, à semelhança de outros profissionais competentes para o efeito, interessou-se desde cedo por esta temática. A estudiosa também concorda que possam existir várias razões para que as mulheres tenham essa tendência conflituosa. A sua opinião é a mesma da atrás citada Fernanda Verzehassi e da psicóloga e escritora Meredith Fuller. Mohr’s e Fuller afirmam que, obviamente, nunca houve uma boa reação à crítica e ao julgamento e que, muitas vezes, é por aqui que começa a desavença. Observa-se, similarmente, que o género feminino dramatiza mais os comentários do que os homens. E, o facto de ninguém gostar de ouvir uma crítica, não fica somente pelo desconforto que isso causa, nem pela negação que isso transmite. Existem outras e várias razões para que haja desagrado.
Eis alguns dos eventuais motivos porque isso acontece e porque acontece mais no género feminino:
- Somos orientadas para o relacionamento e damos-lhe imenso valor. Portanto, quando as pessoas não gostam do que estamos a fazer, para nós, pode ser um sinal de desarmonia ou de uma rutura nos nossos relacionamentos.
- Recolhemos mais informações sobre o que os outros pensam. Muitos estudos mostram que as mulheres são mais hábeis a ler expressões faciais (e a linguagem corporal) do que os homens. Isso significa que recebemos mais informação do que os homens acerca de como as pessoas estão a reagir ao nosso Eu.
- A aprovação de outras pessoas tem sido, muitas vezes, a nossa salvação. Durante grande parte da história da humanidade, as mulheres não se puderam proteger por meios legais, políticos ou financeiros. Não tínhamos essas opções. A nossa sobrevivência só era garantida se nos adaptássemos ao que era desejado e aprovado por aqueles que detinham maior poder. O legado dessa história ainda está vivo em nós, ainda que inconscientemente, e pode abalar a nossa confiança a nível geral.
- Temos anos de ensinamento do que é “ser uma boa menina”. A sociedade obriga a que sejamos “mais simpáticas e doceis”. Então, quando outra mulher nos ofende, ainda nos parece mais ofensivo e mais humilhante porque é menos aprovado entre nós do que entre os homens. Logo, temos (muitas vezes com razão) medo de ataques pessoais. Pesquisas mostram que, quando as mulheres recebem um feedback negativo, isso tende a ser encarado de forma mais pessoal (emocional) do que quando são os homens a receber o mesmo feedback. E, especialmente na era do digital, isso ainda pode ser mais violento psicologicamente porque a pessoa que ataca sente-se protegida por um ecrã, ofendendo sem qualquer inibição.
- Por último, o foco da nossa cultura na aparência feminina (beleza, peso, etc.) envia às mulheres a mensagem de que a forma como os outros nos veem é muito importante. Até em filmes ou programas de televisão, o destino da personagem feminina é geralmente determinado não pelo que ela faz, mas sim pela forma como ela é vista. Então, o que fica no nosso inconsciente é que o que as outras pessoas pensam de nós é mais importante do que a nossa experiência vivida ou do que as nossas escolhas.
Estes aspetos são muito importantes e claramente elucidativos do porquê de nos sentirmos mais facilmente magoadas, e até ameaçadas, perante uma crítica. Não obstante, não esclarece por que grande parte das mulheres descarrega a sua agressividade com maior incidência nas suas semelhantes do que nos homens. Sobre isso, Tara Mohr’s afirma:
"Em qualquer sociedade, as pessoas de um grupo marginalizado ou de baixo poder acabam por descarregar essa dor e raiva umas nas outras através do conflito interno. A maioria das mulheres ainda luta assim, porque na verdade ainda não tem consciência das suas verdadeiras qualidades, capacidades e direitos — ainda negamos os nossos próprios sonhos (...) tratamo-nos com dureza. Por isso, o mais usual é ir criticar, atacar e tentar sabotar outras mulheres, porque nos abala ver nelas o que não temos em nós mesmas. Atacaremos se virmos algo a emergir, ou expresso noutra mulher, que tenhamos esmagado em nós mesmas. Não apoiaremos, de todo, o coração de outra mulher que segue a sua paixão, se nos convencermos do contrário. Não apoiaremos o seu idealismo e desejo de mudar o mundo se tratarmos o nosso próprio idealismo com julgamento ou aspereza. Não podemos celebrar o sucesso, a ambição, a assertividade de outra mulher se estivermos a restringir isso em nós mesmas".
Em suma: embora com razões que a própria razão por vezes desconhece (padrões inconscientes e crenças limitantes), a mulher que mais ataca as outras e/ou se defende de uma forma menos agradável, sendo ainda mais crítica e dura do que até uma eventual atacante possa ter sido consigo, mostra que em si ainda vive uma grande insegurança e falta de aceitação. É por isso que vários estudos apontam que a mulher mais irritadiça e conflituosa com outras mulheres pode ser, também, aquela que pode não ter:
- Um relacionamento carinhoso com a pessoa amada;
- Uma vida sexual ativa e satisfatória;
- Um part time que adore;
- Um trabalho que a preencha e a faça sentir-se bem a nível profissional;
- Uma imagem positiva, física e psicológica, de si mesma.
Sendo que os estudos e as estatísticas têm o valor que têm – cada um lhes atribui o valor que considera pertinente – o meu conselho, caso se identifique como potencial irritadiça e de fácil conflituosidade, é que não deve desistir de si mesma. Mude o foco, aceite-se e deixe de ver as outras mulheres como possíveis inimigas. Acredite que, tal como você, o seu alvo a abater tem muito mais em que pensar do que somente poder estar a arquitetar também algo contra si.
Portanto, mulheres do mundo, basta! Aceitem-se de uma vez por todas, amem-se e permitam que, quais árvores em plena primavera, os vossos seres floresçam e se mostrem ao mundo, tal como são a maioria das vezes: lindos, lindos, lindos!
Vanda do Nascimento é terapeuta, formadora e instrutora de Mindfulness na Escola de Mindfulness Essencial, fundada por si em 2016. Começou, em 1997, a sua carreira como professora, ao licenciar-se em Educação. Nessa mesma data, também iniciou os seus estudos em Reiki, Meditação e Atenção Plena. Posteriormente, enveredou pelos caminhos da Psicologia e aprofundou, ainda mais, a temática do Mindfulness, de forma a continuar a sua luta no controlo do stress e da ansiedade.