Procurar ajuda psicológica ainda é um desafio para muitos homens, principalmente quando o motivo está associado a uma dificuldade sexual. Uma das principais causas para esta situação prende-se com as expectativas e estereótipos que a sociedade atribui à masculinidade. Desde a infância, muitos homens são educados a reprimir as emoções e a manter uma postura de força e invulnerabilidade. A transmissão de crenças como “um homem não chora”, “a depressão é para os fracos” ou “homem que é homem está sempre pronto para ter sexo” reforça a construção social de masculinidade que leva muitos homens a terem relutância em procurar ajuda externa ou a reconhecer as suas vulnerabilidades a nível psicológico e sexual.
Por outro lado, diversos estudos indicam que as mulheres são mais propensas a reconhecer sintomas que requerem apoio psicológico como depressão e ansiedade. Isto acontece porque, desde jovens, as mulheres são encorajadas a falar sobre os seus sentimentos e a procurar ajuda quando necessário.
Estes factos espelham bem a minha experiência enquanto psicólogo clínico, terapeuta sexual e conjugal. Ao longo dos mais de vinte anos como profissional de saúde, tenho verificado que nos casais heterossexuais, quando os sintomas da disfunção sexual pertencem ao elemento masculino, a primeira consulta revela um elevado grau de desgaste da relação amorosa. Muitas vezes, as parceiras veem a terapia como último recurso para salvar a relação, pois não é raro que tenham passado vários anos em que os companheiros adiaram sucessivamente procurar ajuda. Já quando os sintomas estão presentes na mulher, verifico uma maior facilidade em procurar ajuda, o que leva a que a relação não tenha sofrido um desgaste tão grande associado ao problema sexual.
Um exemplo típico do descrito no parágrafo anterior prende-se com a falta de desejo sexual. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o Desejo Sexual Hipoativo, geralmente conhecido como “falta de libido” ou “falta de desejo sexual”, não é um problema exclusivo da população feminina. A verdade é que, em contexto clínico, o número de pedidos de ajuda para esta condição é muito semelhante entre homens e mulheres. No entanto, quando a falta de desejo sexual está do lado da mulher, o casal tende a procurar ajuda num curto espaço de tempo, ao passo que quando é do lado masculino passaram vários anos em que os sintomas estiveram presentes até à marcação da primeira consulta.
O desejo sexual hipoativo manifesta-se através de uma diminuição persistente ou recorrente do interesse ou iniciativa em atividades sexuais e pela ausência de pensamentos ou fantasias sexuais, afetando significativamente a qualidade de vida próprio e da conjugalidade.
Para recuperar o desejo sexual e melhorar o bem-estar geral, é importante entender as causas e abordar o problema através de abordagem médica e/ou psicológica. As causas do desejo sexual hipoativo são multifatoriais e envolvem uma interação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais, destacando-se:
- Fatores Biológicos – estão muitas vezes associados a alterações hormonais, nomeadamente baixos níveis de Testosterona, mas também podem dever-se a doenças crónicas, como diabetes, hipertensão ou doenças da tiroide. É importante ter em consideração que alguma medicação para a hipertensão e determinados antidepressivos e antipsicóticos, podem ter efeitos secundários que afetam a resposta sexual, incluindo o desejo sexual. Também é comum encontrar alterações no desejo sexual como consequência de outros problemas de saúde como obesidade, doenças cardiovasculares e distúrbios do sono.
- Fatores Psicológicos – como principais inimigos do desejo sexual, é comum encontrarmos altos níveis de stress e ansiedade devido a questões laborais, pessoais ou financeiras, estados depressivos e experiências de vida traumáticas. Muitos homens também tendem a apresentar diminuição do desejo sexual em consequência de outra disfunção sexual, como é o caso da disfunção erétil ou da ejaculação prematura.
- Fatores sociais e relacionais – os conflitos, a falta de comunicação e satisfação na relação amorosa, também podem ter um impacto direto no desejo sexual.
Esta complexidade de fatores torna o tratamento do desejo sexual hipoativo, tanto de homens como de mulheres, bastante desafiante para os profissionais de saúde. Na verdade, não basta ter os níveis de Testosterona equilibrados, pois mesmo com valores dentro da normalidade é possível ter falta de desejo sexual. Da mesma forma, uma relação amorosa conflituosa pode não afetar diretamente a libido.
Isto leva-nos a entender que independentemente do género ou orientação sexual, é importante que as pessoas reconheçam que o desejo sexual hipoativo não é o reflexo de uma fraqueza ou falha, mas uma questão de saúde tratável!
Não faz sentido sofrer em silêncio, quando existem soluções!
Texto escrito por:
Fernando Mesquita, Psicólogo Clínico, Sexólogo e Terapeuta Sexual e Conjugal.
Reconhecido como especialista em Psicologia Clínica, especialista em Psicoterapia Cognitivo Comportamental e especialista em Sexologia, pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). Reconhecido como Psicólogo, pela EFPA (European Federation of Psychologists Associations). Terapeuta Sexual, pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC), e Sexologista pela American Board of Sexology (ABS). Terapeuta Cognitivo Comportamental, pela Associação Portuguesa de Terapia Cognitiva Comportamental Integrativa (APTCCI) e Terapeuta EMDR.
Autor de 3 livros: “SOS Manipuladores” (pela Esfera dos Livros); “Aprender a A.M.A.R.” e “Deuses Caídos” (pela Saída de Emergência). Coautor no livro "Cuidar da sexualidade ao longo da vida" (pela Lidel).
Página oficial: https://fernandomesquita.net