Em 2021, percebemos que a nossa sociedade ainda está muito agarrada ao conceito padrão de família, em que o pai é aquele que sustenta financeiramente a casa, enquanto a mãe cuida de todos e trata do lar.
Ninguém questiona os sonhos e os objetivos profissionais de um homem. Este pode ter o emprego e o cargo que quiser, onde quiser – ninguém o questiona. Ainda que tenha filhos, se tiver um emprego que o obrigue a viajar e a despender tempo longe da família, ainda é visto como um herói porque vai à luta para sustentar os seus.
No entanto, a mulher, por sua vez, se escolher ter um cargo ou um emprego com as mesmas características descritas, que implique não estar muito presente (fisicamente), já é questionada quanto às suas opções, vista como uma «desnaturada» que abandona a família, e ainda é acusada de ser caprichosa por parecer estar focada apenas em si. Diz a sociedade que é para se afirmarem como mulheres…
Ninguém se coloca na posição da mulher para dizer o quão corajosa esta é ao assumir uma profissão que, de facto, lhe impede de estar mais presente fisicamente, mas que, ao mesmo tempo, lhe permite demonstrar aos filhos que também ela é uma heroína por correr atrás do que a faz feliz. E a verdade é que, mesmo à distância, ainda consegue gerir e organizar a casa.
A felicidade não tem género
Devemos consciencializar-nos de que não podemos ser felizes profissionalmente se não formos felizes pessoalmente, e vice-versa. Quanto mais conseguirmos conciliar estas duas dimensões da vida, mais realizados e completos estaremos. Se me faz feliz ter a profissão X, não a vou exercer só porque alguém considera que não devo, pelo facto de ser mãe e não poder viajar? Não.
Os piores cenários são aqueles em que esta acusação começa por surgir dentro de quatro paredes, onde o companheiro (numa relação heterossexual) não entende (ou não quer entender) que a realização profissional também faz parte da essência da mulher. Mas será que não entende, mesmo? Alguns, de facto, não percebem. Acreditam que uma mulher que queria tanto ser mãe, só se sente completa estando sempre agarrada às suas crias.
Outra situação bastante recorrente é o facto de existirem homens que se sentem inferiores pelo facto de terem ao seu lado uma mulher independente, com maior salário e maior estatuto profissional do que ele. Mas, afinal, o dinheiro e a economia não são construídos pelos dois? Onde fica o conceito de casal e de família?
Podemos e devemos ser sempre quem somos verdadeiramente, ter a profissão que escolhemos e sermos mães e companheiras felizes e equilibradas. E sim, enquanto casal, estes são os valores que vamos passar aos nossos filhos, deixando-os orgulhosos por fazermos o que nos realiza. Isto irá ajudá-los, também, a abrir os seus horizontes, encorajando-os a seguirem o seu caminho no futuro.
Garanto que uma mulher que se sente realizada profissionalmente e tem a seu lado uma pessoa que a respeita (enquanto mulher, mãe e profissional), será cada dia melhor mãe, esposa e profissional. A minha mensagem para si é que acredite que é a melhor versão de si mesma, se ouvir o seu coração e seguir o que a faz vibrar e ser mais feliz.
Texto: Daniela Andrade | Especialista em educação social e infância
Daniela Andrade é formada em Educação Social, iniciou o seu percurso profissional em 2008 e, recentemente, abraçou o projeto Social Educators, no qual atua enquanto especialista em educação social e infância, utilizando ferramentas pedagógicas para intervir nas problemáticas das pessoas. Algumas das suas áreas de intervenção são a parentalidade positiva, a educação sexual, a educação ambiental, o apoio a pessoas com problemas de adição, o apoio na gestão do orçamento familiar, entre muitas outras.
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